Suicídio: “se precisar, peça ajuda”
José Hiran da Silva Gallo
Diretor-Tesoureiro do Conselho Federal de Medicina (CFM)
Doutor e pós-doutor em bioética
Durante o mês de setembro, fomos impactos por centenas de mensagens, reportagens e artigos que tratavam da importância da prevenção ao suicídio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos. Os cálculos apontam, em média, um caso de suicídio a cada 40 segundos. Desse total, a grande maioria (75%) é composta de moradores de regiões pobres e desfavorecidas.
O Brasil contribuiu com essas estatísticas. Os números falam em aproximadamente 12 mil casos anualmente. Todos os dias, pelo menos 32 brasileiros tiram suas próprias vidas. Os dados do Ministério da Saúde indicam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos.
É triste, mas é verdade. Acontece com muito mais frequência do que se imagina e, às vezes, com pessoas que não aparentavam passar por qualquer crise. No entanto, esses números e os dramas que representam poderiam ser evitados ou reduzidos consideravelmente. O problema é que a dificuldade em falar sobre o assunto e de expor o sofrimento contribui para que desfechos trágicos aconteçam.
Há o medo do preconceito, da indiferença, de colocar em xeque a imagem projetada ao longo de anos e que costuma estar distante da realidade. Segundo especialistas, o caminho que leva ao suicídio passa por um martírio íntimo que inclui, entre outros transtornos, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, ansiedade e abuso de substâncias. Todas essas dificuldades podem ser superadas, se tratadas com a ajuda de profissional.
Como tem ocorrido nos últimos anos, o Conselho Federal de Medicina (CFM e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o apoio de inúmeras entidades, como, o Conselho Regional de Medicina de Rondônia (Cremero), organizaram ao longo de setembro uma campanha nacional sobre a prevenção ao suicídio que trouxe o assunto para o centro das discussões.
No entanto, setembro vai embora e fica a certeza de que não podemos limitar a preocupação com esse tema a apenas 30 dias durante o ano. Esse engajamento solidário em compreender e ajudar o próximo precisa e deve ser contínuo. Para tanto, é necessário entender os mecanismos desse problema e se preparar para falar sobre ele.
Aliás, estender a mão e se dispor ao diálogo, despido de visões distorcidas e munido de solidariedade, são medidas que trazem alívio para quem sofre em silêncio. Pouca gente sabe que foi a agonia de um jovem americano, em 1994, que despertou no mundo a consciência de que é preciso romper o tabu em torno das dificuldades que podem levar alguém a tirar a própria vida.
A origem do Setembro Amarelo e o simbolismo que encerra começou com o suicídio de Mike Emme, de apenas 17 anos. Considerado um jovem carinhoso e feliz, ele um dia se matou, deixando atônitos amigos e familiares que disseram nunca terem percebido qualquer sinal sobre a crise que o abalava.
Dono de um Mustang 68 (no Brasil, conhecido com Camaro) que ele mesmo havia reformado e pintado de amarelo, no seu funeral, os mais próximos montaram uma cesta de cartões e fitas amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”. Esse foi o ponto de partida para uma campanha de conscientização que tomou grandes proporções e, anos depois, chegou ao Brasil pelas mãos do CFM e da ABP.
Histórias como a desse rapaz podem ter um final diferente se todos entendermos que é possível ajudar. O suicídio é o desfecho de um processo, muitas vezes longo, no qual a depressão deixa de ser vista como doença que pode ser tratada.
Pena que, em lugar de receber orientação, quem aparenta não ir bem acaba sendo classificado por alguns como uma pessoa fraca, incapaz, com distúrbios de personalidade. Por isso, convido todos a fazerem a inverterem essa lógica e olharem o outro com solidariedade e compaixão.
Desse modo, a campanha de prevenção ao suicídio permanente, pois todos os dias serão dedicados à conscientização sobre esse grave problema de saúde pública. Para tanto, estejamos atentos ao que ocorre ao nosso redor. Prestem atenção aos amigos e familiares nos dizem com seus atos e gestos.
Irritabilidade, variações frequentes de humor, agressividade, isolamento, expressão de desesperança, sentimento de culpa e rejeição, tristeza, angustia ou ansiedade são alguns dos sinais que substituem palavras. Ao perceber esse quadro, se prontifique a ouvir e ajudar. Esse gesto pode mudar uma história.